Porque sobremesas sem ovos e derivados do leite é a nova moda

A finais de 2020, Ben & Jerry’s, uma compania americana que produz sorvetes, iogurtes e bolos, dedicou um novo sabor para homenagear o astro de futebol americanoda, Colin Kaepernick, também conhecido como ativista de direitos civis. É chamado de “Change the Whirled” e parece celestial: caramelo com chips de chocolate, redemoinhos de biscoitos de graham e redemoinhos de biscoitos de chocolate.

Embora esteja escrito “não lácteo” claramente na embalagem, muitos consumidores distraídos podem não se atentar ao significado da sobremesa não usar produtos de origem animal; O próprio Kaepernick é vegano. Assim como os humanos, e de fato todos os mamíferos, as vacas produzem leite apenas quando estão grávidas. A indústria leiteira, portanto, sempre envolve a “inseminação” de vacas. Isso geralmente significa inserir objetos à força nos órgãos reprodutivos das fêmeas, cabendo essa tarefa a trabalhadores manuais de baixos salários.
© Vitor Schietti

Uma vez nascidos, os bezerros são retirados de suas mães quase imediatamente para que possamos beber o leite destinado a eles. Enquanto as bezerras são criadas para se tornarem parte da indústria de laticínios, os machos, que são os resíduos dessa indústria, são mortos imediatamente ou vendidos para criações de vitela.

 

Temple Grandin, amplamente visto como um dos principais defensores do tratamento humano de animais de criação, descreveu vacas mães berrando pelos bebês que foram levados. O seu clamor triste pode durar dias. Esse processo exaustivo de nascimento e separação se repete ano após ano, até que as mães exauridas sejam transformadas em carne de hambúrguer.

© Vitor Schietti

Embora ainda tenhamos que percorrer um longo caminho para alcançar a verdadeira igualdade, nos últimos 150 anos, aproximadamente, fizemos alguns progressos no campo dos direitos humanos. Isso quase não acontece com os direitos dos animais.

Ainda compramos e vendemos membros de outras espécies como se fossem mercadorias. Poucos de nós reconhecemos a simples crueldade de confinar animais pelo resto da vida, mesmo que condenemos os abusos específicos que eles comumente sofrem.

A prática padrão da indústria agrícola inclui a castração de leitões e corte da cauda sem anestesia. Inclui cortar as pontas dos dedos dos pés dos perus, que vivem em galpões lotados em fazendas industriais. E ainda, na maioria das fazendas de ovos nos Estados Unidos, isso inclui as galinhas embaladas em pequenas caixas colocadas umas em cima das outras, estando submetidas umas aos excrementos das outras, pelo resto de suas vidas.

Colin Kaepernick disse à NBC Sports que escolheu se tornar vegano “por causa da ética”, um termo geral associado a fazer a coisa certa. A ética por trás de um estilo de vida vegano pode refletir uma preocupação com nosso planeta, dado o impacto devastador da pecuária no meio ambiente e sua contribuição descomunal para a mudança climática.

As fazendas industriais nas quais a maioria dos animais são criados atualmente estão situadas em bairros de baixo nível socioeconômico, onde há pouca resistência efetiva a eles, resultando em um sistema que tem sido denominado “racismo ambiental”.

© Rost Fomin

A poluição das fazendas fabris adoece os moradores, suja a água e exala um fedor que mantém os moradores dentro de casa, com as janelas fechadas, o ano todo.

 

Com base nas batalhas de Kaepernick contra a injustiça, podemos supor que a ética que orienta seu veganismo também se baseia na profunda injustiça que os humanos infligem a outras espécies. Com a explosão do mercado de leite não lácteo, o mercado de carne de base vegetal em alta e agora uma grande empresa de sorvetes dedicando um item sem laticínios a um defensor da justiça social, esperemos que estejamos vendo um crescente desconforto social com a injustiça embutida nosso sistema alimentar atual e uma onda iminente de mudanças há muito esperadas.

© Vitor Schietti
Karen Dawn

Karen Dawn

Karen Dawn dirige a organização sem fins lucrativos DawnWatch e é autora do livro "Thanking the Monkey: Rethinking the Way We Treat Animals".

Esta coluna foi produzida originalmente para o Progressive Media Project, que é executado pela revista The Progressive, e foi distribuída pelo Tribune News Service.

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